Madrugada.
Os cães ladram lá fora desesperadamente.
Susto. Sonho. Vida.
Não: mortes!
Milhares de mortes desnecessárias!
Mães e pais, avós e avôs, irmãos e irmãs
Todos, asfixiadamente, morrendo!
Afogados pelo próprio corpo e ar e sustentar:
Vidas!
Perdidas ,
Pelo vírus da morte,
Vírus da ignorância,
Virus do neonazismo,
Vírus miliciano!
Que matam mais que os tiros de fuzis
Das balas, propositadamente, perdidas!
Que matam mais que os racismos mal declarados
E sempre direcionados!
Vírus da insensatez
E de uma pequena elite
Que vive na embriagez:
Do colonialismo secular
E da subserviência milenar!
E os cães que ladram lá fora -
Madrugada à pino -
Lua envergonhada de ter ser avermelhado algum dia,
Boêmios e poetas e bêbados e drogados vivendo seus sonhos
E cães ladrando lá na rua escura
E eu ouvindo botinas e tiros e gritos ensurdecedores de censuras e torturas...
E seus latidos me estremecem:
A alma
O corpo
A vida!
E os cães que ladram passam fome
E morrem
E ladram
E morrem
E ladram
E viveremos presos
Numa loucura numeral
De mortes e perdas,
Estatal!
E nossas dores
E dores alheias
Perdidas
Num grande funeral!
E pendores num país sem pudor,
Sem amor,
Anestesiado de uma dor de robô!
Utilizando-se para respirar,
Para suportar
O álcool,
O trabalho,
O cigarro,
A necessidade,
A vontade e a saudade,
Tudo para não perceber
O tamanho da dor!
Para amar a própria existência,
Persistência,
Negligência,
Do que não pode sufocar:
São tantos cães,
Tantos latidos estridentes,
Temidos,
Renhidos,
Tantos pesares reprimidos,
Tantas loucuras represadas…
Que hoje
Só desejo
Uma saída:
É preciso calar os cães
Que latem
Madrugada adentro,
Infectando nossa feridas!
É preciso calar
O cão-mor
E seus filhotes suicidas!
É preciso calar o latido,
O rosnar
E o uivo
Deste aspirante a lobo
E carnívoro insaciável,
Deliberadamente
genocida!
O poeta transforma a dor,a indignacao, a vida pre morte ,tudo em poesia. É a sua força vital.
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