terça-feira, 1 de setembro de 2015

3 Reflexões sobre o Poetizar

Um dia me perguntaram como eu definiria a necessidade de escrever. Só consegui responder com um paradoxo: a crueldade da procura ou a procura da crueldade...




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Antigamente preocupava-me com o fato de estar sendo contraditório no que escrevia, hoje me preocupo em não o estar.




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Ser profundo sem ser grave: eis a utopia do estilo! Isso seria como amar sem sofrer...

3 Reflexões sobre os Poetas

Os Homens fogem tanto das sombras, contudo jamais conseguem suportar os mais brilhantes raios do sol...
Os poetas (que também são Homens) vivem intensa e permanentemente entre esses dois mundos: por isso são tão desprezados!



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O que seria da tristeza, da dor e do sofrimento se não existissem os poetas?


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Não me lembro qual poeta disse certa vez que um único verso poderia substituir todo um sistema filosófico: ainda procuro tal maravilha!






terça-feira, 19 de maio de 2015

O Lodo e a Flor

Em meio ao lodo do dias presentes,
 lodo-capital,
lodo-ganância,
lodo-consumo,
com todo seu poder de barro,
suas aquosas mentiras,
nascidas de almas embrutecidas e putrefatas.

Nesses dias em que tudo parece tão lógico:
soma-se rendas e propagandas,
mais interesses e burocratas,
multiplica-se pelas possibilidades inumeráveis de lucros,
compra-se vidas e destinos,
vende-se idéias e símbolos
e chega-se ao pragmático resultado:
o lodo-antiutópico,
o lodo-sugador-de-sonhos,
o lodo-hierárquico,
o lodo-dinheiro.
Será que percebem
que deste lodo que nascem
as moscas azuis?
Será que sentem
os privilégios sujando
as límpidas almas?
Será que não conseguem
escapar da condição
de animais predadores?

Que triste espetáculo
esse dos Homens-lodo:
seus ensaios repetidos
exaustivamente repetitivos,
suas reuniões noturnas
decisivamente soturnas,
seus gestos recalcados
de palavras desgastadas.
Soam como a representação
de uma peça atemporal:
nenhuma maquiagem ou figurino,
cenário ou improvisação,
iluminação ou novo elenco
conseguem limpar a lama
dessa entediante tragicomédia.

São dias dos Homens-lodo-comerciantes,
Homens-lodo-sem-imaginação,
Homens-lodo-status-quo,
Homens-lodo-figurantes.
Será que não entendem
que também a vida
está ali presente?
Será que não sentem
o sedimento da matéria orgânica
da precedente morte?
Será que não enxergam
todas vidas ressurgindo
debaixo dos seus pés?

Às vezes avistamos uma rara flor
perdida neste lodo-pântano:
flor-de-aço,
flor-de-arte,
flor-esperança,
que nos traz suspiros de surpresa
pela beleza inusitada
 pela força renovadora
da sempre indecifrável
e indomável natureza.

Sabemos que aquela vida destacada
na desoladora paisagem lodosa
é tão somente o inevitável resultado
de tantas outras vidas passadas.
Intuimos que o lodo tentará
sufocar aquela flor-não-desejada:
transfigurá-la em flor-ultrapassada,
flor-sem-memória,
flor-sem-olhos,
flor-arcaica.
Mas nos surpreendemos ao ver
que naquela flor solitária
as moscas azuis
não ousam pousar.
E como nos é emocionante notar
novas flores-irmãs
desabrochando ao seu lado:
flores-multicores,
flores-sonhos,
flores-mudanças.
E aliviados confirmamos
a intrínseca e inesgotável
inescapavelmente coletiva
vitória da vida,
que um dia transformará
todo lodo-presente
em flores-futuro.