segunda-feira, 25 de abril de 2011

APPASSIONATO

sou triste,
já falei muitas vezes que sou triste:
Triste como beato que espera o paraíso... morre, não encontra nada!
Triste como alcoólatra que pede vinho... embriagado, lhe servem água!
Triste como deve ser a tristeza: dura, corrosiva, metálica, transparente...

sim, eu sei,
não deveria me apaixonar:
Homens como eu não estacam no caminho... entrega, desesperam-se!
Homens como eu não seguem morais... subverte, choram!
Homens como eu se confortam em saber: as fugas da tristeza, maneiras diferentes de ser triste!...

tudo bem,
dize-me o que posso eu fazer:
Em mim o instinto vocifera... caninos, dominam-me!
Em mim a alma inunda... primeva, lhe sirvo!
Em mim derrota antecipada: peleja com a morte, batalha previamente perdida!...

mas fazer o quê,
eu não sou protegido por leis:
“É expressamente proibido mulheres belas... batom vermelho, Afrodites!”
“É expressamente proibido olhares lânguidos... suavidade, charmosas fêmeas!”
“É expressamente proibido o descumprimento do dito acima: sujeito à acusação de demasiado humano!”

e na verdade,
eu nem ligo pra nada disso:
Há derrotas mais honradas que vitórias... índios, massacraram-lhes!
Há dores mais profundas que sorrisos... Dostoievski, buscas internas!
Há sempre jeitos mais tolos de viver: feliz, limitado, vulgar, reto...

não, não,
só quero que não esperes isso:
Homens que não atrasam pagamentos... bons costumes, robotizados!
Homens que só amam a si mesmos... cofres de ouro, apoéticos!
Homens dos quais não possas dizer: “tipo-desgraçado-não-passa-segurança-alguma...”

sim, sim... apaixonado,
por estranho que te possa parecer:
Apaixonado como rosas pela mão... espinhos, sangue no papel!
Apaixonado como Sísifo pela pedra... castigo, absurdos inevitáveis!
Apaixonado como exige a paixão: violenta, utópica, devoradora, anulatória...

ah... eu já disse,
tu não entendeste, querida:
Quero-te como o dia quer a noite... ciclo, para se completar!
Quero-te como o suicida quer o fim... Van Gogh, imagens à posteridade!
Quero-te para placidamente dar-me: o genuíno se dar, aquilo que em nós transborda!...

é isso... mas não esquente,
peço, jamais se esqueças:
Sou triste como renúncias corajosas... palavras em brasa, amor não vivido!
Sim, triste como “Appassionata” do Beethoven... dor contida, tensão melancólica!
Eu sou triste ainda tendo lábios: tristeza fado na vida, transcendê-la só com paixão!...

terça-feira, 19 de abril de 2011

O TEMPO E A VIDA

O que é um segundo
em dois ou três minutos?
O que são quatro minutos
em cinco ou seis horas?
O que são sete horas
em oito ou nove dias?
O que são dez dias
em onze ou doze semanas?
O que são treze semanas
em catorze ou quinze meses?
O que são dezesseis meses
em dezessete ou dezoito anos?
O que são dezenove...
Aí amiga, lá se foi a tua vida!

terça-feira, 12 de abril de 2011

3 reflexões sobre a Lei Anti-fumo:

O que os fiscais da Lei Anti-fumo fariam se se deparassem com o Saci-Pererê em um desses botecos da vida? E se fosse a Caipora? Já a Mula-sem-cabeça não ofereceria grandes complicações...



Essa lei Anti-fumo me estimula a desejar acender um cigarro em um posto de gasolina só para ver o que acontece: seria multado por tentativa de suicídio ou por querer viver a vida de modo exageradamente perigoso?



Ah... Senhor, como me arrependo de não ter dado cigarro para todos os Serras que me pediram na vida...

Tentativa...

Eu sou sempre
uma improvisada
incompleta
defasada
tentativa de mim mesmo

Considerando que...

Considerando que sou homem cheio de melancolia,
e sou um animal com fogo, olhos, ossos e paixão,
que bebo, fumo e do prazer não abro mão,
e que há muito fiz da vida pura picardia.

Considerando que o sol nos impôs o chato dia,
e que não há virgens nos quartos de bordel,
que nenhum deus me aceitará como sócio do seu céu,
e que enriquecer trabalhando é ingênua fantasia.

Considerando que sou selvagem animal castrado,
e como tal, oprimido entre paredes de concreto,
e o que é bom na vida poucas vezes é correto:

Espero, sem temor ou raiva, esse fado desgraçado,
e como os anjos não protegem almas desregradas,
contento-me com a poesia, a morte e mais nada.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Tédio

Total                                                               
Estado                                 
De
Isquêmico
Ócio

Em
Dias
Impudentes
Ou
Tantálicos,

Dolorosamente
Incompreensíveis,
Oprobriosos,
Tamanha
Educação

Imoral –
Odiosa
Testemunha
Escondida
Dos

Olhos
Terrestres –
E
Deus
Ironicamente

Traduz
Encarnada
Desídia,
Inércia,
Orgulhoso:


in extenso: Tédio: total estado de isquêmico ócio em dias impudentes ou tantálicos, dolorosamente incompreensíveis, oprobriosos, tamanha educação imoral – odiosa testemunha escondida dos olhos terrestres – e Deus ironicamente traduz encarnada desídia, inércia, orgulhoso: Tédio

Ausência

Contemplando – com meus olhos cansados e insones –

por horas a fio a densa brancura do papel,
Pensando no seu primevo estado de vida
à espera da intromissão prevista das palavras,
entendi seu desespero insuportável da ausência...
Não se sintas, ó folha de papel, única, injustiçada,
pois cá venho eu te demonstrar, eu poeta inacabado,
  diminuindo tua ausência com versos mal escritos –
o quão a vida humana está em situação pior:
Vivemos a ausência daquilo que fomos, por deixarmos de ser;
            Vivemos a ausência daquilo que não somos, pensando ser alguma coisa;
Vivemos a ausência daquilo que seremos, que jamais será o que é...
E quem virá aliviar nosso desespero angustiante
com qualquer palavra vulgar ou bela, refinada ou triste?