quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Eu estava ali...

Eu estava ali

sempre em você 

Esperando uma palavra

– a tua voz – 

para voltar a estar comigo...


Eu estava ali

fora de mim

Desejando um outro corpo

– o teu suor – 

para poder estar conosco...


Eu estava ali

quase estrangeiro

Contemplando a madrugada

 – teu olhar negro – 

para enxergar a minha alma...


Eu estava ali

não sei aonde 

Observando o que não tenho

 – o teu sorriso – 

para poder sorrir um pouco...


Eu estava ali

um outro eu 

Criando um belo mundo

– o meu e teu – 

para sentir o amor de novo...


Eu estava sempre ali

sem você... sem mim

Ansiando tanto... perdido... que...

 – ‘cadê você?’ – 

agora eu... de repente... sumi...






quinta-feira, 18 de março de 2021

OS CÃES QUE LADRAM LÁ FORA

Madrugada.

Os cães ladram lá fora desesperadamente.

Susto. Sonho. Vida.

Não: mortes!

Milhares de mortes desnecessárias!

Mães e pais, avós e avôs, irmãos e irmãs

Todos, asfixiadamente, morrendo!

Afogados pelo próprio corpo e ar e sustentar:

Vidas!

Perdidas ,

Pelo vírus da morte,

Vírus da ignorância,

Virus do neonazismo,

Vírus miliciano!

Que matam mais que os tiros de fuzis

Das balas, propositadamente, perdidas!

Que matam mais que os racismos mal declarados

E sempre direcionados!

Vírus da insensatez

E de uma pequena elite

Que vive na embriagez:

Do colonialismo secular

E da subserviência milenar!

E os cães que ladram lá fora -

Madrugada à pino -

Lua envergonhada de ter ser avermelhado algum dia,

Boêmios e poetas e bêbados e drogados vivendo seus sonhos

E cães ladrando lá na rua escura

 E eu ouvindo botinas e tiros e gritos ensurdecedores de censuras e torturas...

E seus latidos me estremecem:

A alma

O corpo

A vida!

E os cães que ladram passam fome

E morrem

E ladram

E morrem

E ladram

E viveremos presos

Numa loucura numeral

De mortes e perdas,

Estatal!

E nossas dores

E dores alheias

Perdidas 

Num grande funeral!

E pendores num país sem pudor,

Sem amor,

Anestesiado de uma dor de robô!

Utilizando-se para respirar,

Para suportar

O álcool,

O trabalho,

O cigarro,

A necessidade,

A vontade e a saudade,

Tudo para não perceber 

 O tamanho da dor!

Para amar a própria existência,

Persistência,

Negligência,

Do que não pode sufocar:

São tantos cães,

Tantos latidos estridentes,

Temidos,

Renhidos,

Tantos pesares reprimidos,

Tantas loucuras represadas…

Que hoje

Só desejo 

Uma saída:

É preciso calar os cães

Que latem

Madrugada adentro,

Infectando nossa feridas!

É preciso calar 

O cão-mor

E seus filhotes suicidas!

É preciso calar o latido,

O rosnar

E o uivo

Deste aspirante a lobo

E carnívoro insaciável,

Deliberadamente

genocida!