segunda-feira, 20 de junho de 2022

Canto o amor porque é tudo o que me resta…

Canto o amor porque é tudo o que me resta

Nessas manhãs que a saudade é neblina que me cerca

Nessas noites que a solidão na minha alma reverbera

Nesses tempos que um dia se assemelha à uma era…


Canto o amor porque é tudo o que me resta

Porque o diminuto buraco no peito já virou cratera

Porque o ser humano não mais esconde ser besta fera

Porque o virtual virou o real sem sonhos ou quimeras…


Canto o amor porque é tudo o que me resta

O amor dos loucos do prazer na pura entrega

O amor das coisas essenciais e da primeva

O amor que brinca e do nosso ser se apodera...


Canto o amor porque é tudo o que me resta

O amor das mães e pais que do filho nada espera

O amor incondicional de quem só sente e venera

O amor que nas pequenas coisas se prolifera…


Canto o amor porque é tudo o que me resta

O amor que em cada gesto aparece e se aglomera

O amor que brota como mato em cada fresta

O amor que nos embebeda e faz da vida uma festa…


Canto o amor porque é tudo o que me resta

Canto o amor porque é ele que me faz – às vezes – ser poeta...


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Eu estava ali...

Eu estava ali

sempre em você 

Esperando uma palavra

– a tua voz – 

para voltar a estar comigo...


Eu estava ali

fora de mim

Desejando um outro corpo

– o teu suor – 

para poder estar conosco...


Eu estava ali

quase estrangeiro

Contemplando a madrugada

 – teu olhar negro – 

para enxergar a minha alma...


Eu estava ali

não sei aonde 

Observando o que não tenho

 – o teu sorriso – 

para poder sorrir um pouco...


Eu estava ali

um outro eu 

Criando um belo mundo

– o meu e teu – 

para sentir o amor de novo...


Eu estava sempre ali

sem você... sem mim

Ansiando tanto... perdido... que...

 – ‘cadê você?’ – 

agora eu... de repente... sumi...






quinta-feira, 18 de março de 2021

OS CÃES QUE LADRAM LÁ FORA

Madrugada.

Os cães ladram lá fora desesperadamente.

Susto. Sonho. Vida.

Não: mortes!

Milhares de mortes desnecessárias!

Mães e pais, avós e avôs, irmãos e irmãs

Todos, asfixiadamente, morrendo!

Afogados pelo próprio corpo e ar e sustentar:

Vidas!

Perdidas ,

Pelo vírus da morte,

Vírus da ignorância,

Virus do neonazismo,

Vírus miliciano!

Que matam mais que os tiros de fuzis

Das balas, propositadamente, perdidas!

Que matam mais que os racismos mal declarados

E sempre direcionados!

Vírus da insensatez

E de uma pequena elite

Que vive na embriagez:

Do colonialismo secular

E da subserviência milenar!

E os cães que ladram lá fora -

Madrugada à pino -

Lua envergonhada de ter ser avermelhado algum dia,

Boêmios e poetas e bêbados e drogados vivendo seus sonhos

E cães ladrando lá na rua escura

 E eu ouvindo botinas e tiros e gritos ensurdecedores de censuras e torturas...

E seus latidos me estremecem:

A alma

O corpo

A vida!

E os cães que ladram passam fome

E morrem

E ladram

E morrem

E ladram

E viveremos presos

Numa loucura numeral

De mortes e perdas,

Estatal!

E nossas dores

E dores alheias

Perdidas 

Num grande funeral!

E pendores num país sem pudor,

Sem amor,

Anestesiado de uma dor de robô!

Utilizando-se para respirar,

Para suportar

O álcool,

O trabalho,

O cigarro,

A necessidade,

A vontade e a saudade,

Tudo para não perceber 

 O tamanho da dor!

Para amar a própria existência,

Persistência,

Negligência,

Do que não pode sufocar:

São tantos cães,

Tantos latidos estridentes,

Temidos,

Renhidos,

Tantos pesares reprimidos,

Tantas loucuras represadas…

Que hoje

Só desejo 

Uma saída:

É preciso calar os cães

Que latem

Madrugada adentro,

Infectando nossa feridas!

É preciso calar 

O cão-mor

E seus filhotes suicidas!

É preciso calar o latido,

O rosnar

E o uivo

Deste aspirante a lobo

E carnívoro insaciável,

Deliberadamente

genocida!





segunda-feira, 27 de abril de 2020

ANTIPOEMA DO REAL

...eu aqui sozinho comigo mesmo tenso acendendo um cigarro bebendo gim tônica abrindo live do oswaldo montenegro a beleza da música a esperança das letras lembranças das paixões amorosas dos amores apaixonantes dos acertos e erros e dos filhos e da beleza e do carinho e do prazer e de tudo que a vida tem de bom e mesmo de ruim que também é bom e mesmo triste é belo e mesmo longe é perto e mesmo inexistente sou eu... e outro cigarro e outro gole e outro afago da memória e do prazer que não tenho agora e da carne que falta e do carnal  que relembra e o oswaldo lembrando os corpos prazeres paixões dores desamores atritos detritos deteriorados e o tempo ah o tempo e a luz e o sol e a mágica e os medos e as ousadias diárias desnecessárias e mais amores e lembranças tristes alegres intensas tensas alteradas pelo tempo e ah o tempo e a beleza a beleza e a beleza da música e o cigarro e o gim e o pensamento e o verso que surge e o pensamento e o outro verso e o poema nascendo ali no meio da beleza da dor do amor da lembrança do esquecimento do momento e de outro estado interno e terno e outro verso e a loucura do prazer do poema nascendo do amor de outrora da hora de outro momento e dos amores e dores e intentos e do tempo ah o tempo e da beleza e tristeza e do eu e do outro e do nós e dos sem nós e sem outro e sem amores e sem dores e paixões e ilusões ou mesmo desilusões e os versos fogem e o cigarro acaba e o gim se esgota e a live trava e o poeta morre e a realidade sem voltar se impõe... isolamento  pandemia curva que não deixa de ser curva e máscaras e morte e morte e mais morte e neonazismo e bolsonaro e pós-verdade e corpos e mais corpos e covas e mais covas e a falta de covas e morte e a distância e a solidão e a saudade e a morte e mais morte e o poema morreu comigo e em mim e sem mim e se foda tudo e a vida e tudo e nem eu e nem o outro e nem o mundo e o nada e nem a vida existem mais...

sexta-feira, 10 de abril de 2020

PANDEMIAS

Hoje acordei pandemônico:
Virtualmente infectado de pandemências
Nascidas de pandemedos,
Pan-animais,
Pandecomplexos mentais,
Pandemortes alheias
Que se desnudam despudoradamente para mim.

Hoje acordei pandeanímico:
Estupidamente viralizado de pandeuses
Criados por pandevidas,
Pan-desejos,
Pandetempo de cortejos,
Pandecovas pessoais
Que se abrem desnecessariamente em mim.

Hoje acordei panderoto:
Docilmente contaminado de pandefúrias
Surgidas de pandeamores,
Pan-afetos,
Pandemundos incompletos,
Pandeausências infernais
Que se alimentam inescrupulosamente de mim.

Hoje acordei pandeimenso:
Vergonhosamente contagiado de pandevozes
Vindas de pandeoutros,
Pan-poetas,
Pandepalavras de profetas,
Pandepresenças abissais
Que se apropriam indevidamente do mim.

Hoje eu acordei pandevivo,
Hoje eu acordei pandemorto,
Será que hoje
Eu realmente acordei?




quinta-feira, 25 de maio de 2017

3 Reflexões Poéticas sobre Vidraças

Será que as vidraças
Sabem que são tão amadas?



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VIDRAÇAS QUEBRADAS: busca de novos horizontes, de imagens sem barreiras, de mundos aonde o vento possa passar livremente...



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Deixemos as indefesas vidraças em paz, com suas existências diáfanas: da próxima vez é muito melhor tocar fogo nos prédios de uma vez!!!

terça-feira, 1 de março de 2016

Quem?

Quem ama, sabe o que é sofrer?
Quem se dá, sabe o que é amar?
Quem teme, sabe o que é tentar?
Quem ousa, sabe se conter?

Quem muda, sabe o que dizer?
Quem fica, sabe o que é calar?
Quem chora, sabe se curar?
Quem bebe, sabe se perder?

Amei, sofri, tentei e temi...
Dei-me, perdi, ousei e bebi...
Chorei, conti-me, calei e disse:

Não tem cura nada que vivi!
Não se muda o que eu não senti!
Não se perde aquilo que não tive!